sexta-feira, 24 de julho de 2009

Prólogo: Parte II

Depois da vitória que tivemos contra os saxões, avistamos uma aldeia não muito pequena. Decidimos saqueá-la e passar a noite ali mesmo. Encontramos cereais, grãos e abatemos uma vaca e um cordeiro. Foi um verdadeiro banquete para homens que estavam famintos e cansados da batalha. Éramos setenta homens acampados em uma aldeia naquela noite.
A aldeia possuía alguns casebres com o teto de junco e uma igreja de pedra com uma porta de madeira que estava entreaberta. Gritos de uma mulher vinham de um casebre que era iluminado pelo fogo do centro da casa. Dois homens estupravam a mulher saxã que me olhou pela janela e gritou algo que eu imaginava ser algum pedido de ajuda, mas nada podia fazer, ela era espólio deles por direito.
Já fiz a mesma coisa que eles algumas vezes, na maioria estava bêbado, mas prefiro pagar para obter o prazer de uma mulher do que tê-lo a força.
Alguns dos homens estavam sentados em volta de uma grande fogueira no centro da vila. Bebiam cerveja e comiam carne. Naquele grupo estavam os melhores guerreiros de Wulfgaard, e fui chamado para me sentar com eles.
- Ei Johan! Meu cão pulguento! – Gritou Halfdan. – Venha comer e beber com homens de verdade! – E soltou uma gargalhada.
Halfdan era mais alto que eu. Tinha cabelos loiros, uma barba grande e cheia, e uma cicatriz que pegava do olho esquerdo até o maxilar. Era um bom guerreiro e bom homem.
- Aproveite e conte uma história. – Completou Gudrik. – Ou cante uma música.
Gudrik era o mais novo dos guerreiros. Era esguio, bem magro. Parecia que não duraria muito em uma luta feroz, mas tinha uma força e resistência dignas de um gigante. Diferente de todos, seu cabelo era curto, não tinha barba, mas tinha um dragão desenhado na pele em suas costas.
Todos estavam felizes pela vitória do dia, e me juntei a eles. Comemos e bebemos a noite toda. Cantei canções de batalhas e vitórias dos nossos ancestrais, e todos cantaram juntos até ouvirmos um barulho de coisas quebrando, mas era apenas uma briga entre dois homens bêbados que já estavam rindo e se abraçando. Quando nossa cerveja acabou eu não estava bêbado, mas fiquei um pouco zonzo, queria vomitar, então fui caminhar um pouco antes de arrumar um lugar para dormir.
A aldeia já tinha sido saqueada por nós, e os poucos homens que não fugiram antes, foram mortos e as mulheres, depois de estupradas, seriam vendidas como escravas. Na igreja os homens encontraram enterradas sob o altar algumas peças de prata e só, o maior tesouro estava dentro de uma cova ao lado da igreja, era uma cruz do tamanho de um braço de homem feita em ouro puro.
Eu continuava a caminhar pela vila abarrotada de soldados por todos os lados. Passei por perto de um cão que se alimentava dos restos de um guerreiro saxão, e novamente me deparei com a velha igreja com a porta entreaberta. Como eu ainda não tinha entrado lá, me dirigi até a porta e dei uma olhada. Tudo muito escuro, mas pelo buraco que havia no teto, a luz da lua conseguia iluminar com dificuldade o interior da igreja. Passei pelas portas e avistei o altar destruído. Caminhei até ele quando ouvi um som vindo das sombras e senti algo me golpeando pelo lado direito. A lâmina não perfurou minha cota de malha, então me virei e segurei o agressor e senti que era muito magro. Empurrei-o para longe de mim para que pudesse desembainhar Sangue Fresco – que é o nome de minha espada - e matar o desgraçado que caiu sobre alguns pedaços de madeira que a lua iluminava. Foi quando eu vi uma criatura assustada, agachada no chão com os cabelos negros escondendo-lhe parte do rosto, corpo magro e muito branco como a neve. Os olhos azuis e assustados olhavam diretamente nos meus; possuía uma roupa suja e rasgada onde pude observar seus pequenos seios com algumas mechas de cabelo por cima. Na mão que tremia sem parar, estava uma faca sem gume, a que ela tentara me esfaquear. Devia estar morrendo de medo por não ter conseguido me matar e agora estar de frente com um guerreiro Dinamarquês empunhando a espada.
Não foi como eu pensei. De medo ela não tinha nada, deveria estar com frio, porque como uma cobra, se lançou contra mim e eu segurei-a pelo pulso onde segurava a faca. Ela me socou com a mão livre, que eu também segurei e o seu corpo ficou junto ao meu. Ela parecia um animal. Gritava, fedia e tentava me morder. Então, para acabar com isso, bati com o punho de minha espada em sua testa e ela desmaiou. Peguei-a no colo e saí da igreja, e alguns homens viram e perguntaram.
- Quem é a mulher “Skald”?
- Meu espólio. – Respondi sério. Nem todos os homens são meus amigos.
Assim não criaram caso e pude levá-la para a casa maior da vila onde Wulfgaard estava, e ali, tratei da mulher saxã.

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