terça-feira, 14 de julho de 2009

Prólogo: Parte I

Os campos verdejantes estavam em silêncio. Só se ouvia o som dos pássaros e do vento movendo as folhas. O céu num tom azul claro possuía algumas nuvens que escondiam os raios de sol. Em pouco tempo o silêncio que reinava foi quebrado pelo som de gritos, escudos se partindo, flechas zunindo e homens caindo.
Em meio ao tumulto da batalha uma figura se destacava. Um homem alto de corpo largo, cabelos compridos e pretos como o pêlo de um urso, a barba também negra não era muito grande, gritava com selvageria enquanto lutava como um animal. Possuía uma cota de malha, nas mãos carregava um machado de lâmina dupla com o qual despedaçava os inimigos e um escudo pintado de preto. Presa nas costas estava sua espada que já havia provado o sangue de muitos homens.
Era ele! Wulfgaard "Bjorn" Olafson, filho de Olaf, um dos grandes guerreiros da Dinamarca. Logo após Wulfgaard deixar seu machado enterrado no crânio de um inimigo, desembainhou sua espada e gritou bem alto.
- Venham sentir o gosto de Morte Fria seus saxões filhos de uma prostituta velha! – Morte fria era o nome de sua espada.
Homem algum no campo de batalha se igualava a ele. Os inimigos o temiam como se fosse um demônio, e talvez realmente fosse.
Os homens comandados por Wulfgaard pareciam invencíveis. Empurravam a parede de escudos saxã ao som de gritos, urros e xingamentos. Um deles recebeu um golpe de lança na coxa esquerda, e no furor da batalha puxou a lança do agressor, que veio junto com ela, e morreu com uma lâmina na barriga.
Wulfgaard com Morte Fria em uma das mãos e seu escudo na outra, ficava na primeira fila de sua parede de escudos, incentivava seus homens e retalhava quem viesse pela frente. E eu, estava ao lado dele. Um machado passou voando sobre a minha cabeça, empurrei meu escudo pra frente e senti uma ponta tentando me acertar nas pernas, aparei a ponta com a minha espada e estoquei na virilha do agressor. Só senti o sangue quente escorrendo pelas minhas mãos e um corpo desabando sobre meu escudo. Ele gritava enquanto eu pisava na sua cabeça e cravei fundo minha espada em sua garganta.
Não eram dois grandes exércitos se enfrentando. Era um punhado de homens para os dois lados, mas a luta estava bastante feroz. Nós empurrávamos de um lado e os saxões do outro. Nossos arqueiros atiravam flechas sem parar na linha saxã, mas parecia não surtir muito efeito. Os saxões também atiravam flechas em nós, talvez com um pouco mais de sorte, porque o homem que estava atrás de mim caiu pra frente me empurrando depois de ter recebido uma flechada no pescoço. O sangue dele jorrou em mim me deixando ainda mais aterrorizante para os saxões. Não éramos demônios, mas nesse momento, da guerra, deveríamos ser, ou ao menos nos parecer bastante com eles.
Havia um saxão montado em um cavalo bem atrás da fileira de escudos. Ele gritava palavras de incentivo para seus homens, cuspia em nossa direção e demonstrava não ter medo de nós. Pobre coitado. Todos nós sabíamos que aqueles saxões de bosta estavam se borrando de medo. Podiam gritar, xingar e cuspir, mas eles sabiam que quando um barco Viking atracava na praia era a hora certa de rezar para o deus deles implorando pela vida.
A parede saxã não iria agüentar por muito tempo. A cada passo, passávamos por cima dos mortos e feridos da parede inimiga. Cantamos e invocamos o nome de Odin e Thor enquanto cortávamos, quebrávamos, dilacerávamos cada saxão que pudéssemos. A parede saxã cada vez mais ia chegando para trás em direção ao homem no cavalo. O suor escorria na minha testa fazendo meus olhos arderem, mas ali não era lugar pra secar os olhos, Era lugar de morte, e não da minha. Olhei para o lado esquerdo e Wulfgaard estava coberto de sangue, mas não havia ferida em seu corpo, era apenas sangue dos saxões. Ele estava com Morte Fria presa na barriga de um saxão e puxava para tentar soltá-la. O guerreiro inimigo já devia estar morto, mas o sangue não parava de sair de sua boca, até que Wulfgaard o empurrou com o escudo e puxou a espada de volta e as tripas do homem caíram feito água na grama meio verde, meio vermelha.
O lugar da batalha fedia a sangue, mijo, bosta, vômito, suor e cerveja. Não era todo homem que encarava sem medo uma parede de escudos. Na verdade acho que todos tinham medo, mas alguns sabiam disfarçar e outros não. Era comum ver alguém vomitando ou se borrando. A imagem da batalha não é bonita para quem participa dela, só para aqueles que nunca participaram de uma, mas acham que sabem como é estar lá. Mas cada vez que eu estava no meio de uma batalha, era como se todos os meus pensamentos sumissem e no lugar deles havia apenas aquele cheiro, aquele som, aquela necessidade. Matar.
Depois de uma luta feroz a parede saxã foi quebrada. Os saxões da frente tentavam lutar pelas suas vidas, e os de trás corriam, mas foi em vão. Foi um verdadeiro massacre. Os que corriam recebiam todo tipo de lanças, machados e golpes nas costas, enquanto os da frente caíam como bois no dia de abate. O saxão que estava montado no cavalo e gritava para seus homens, estava caído no chão com uma flecha enterrada no peito. Ele ainda estava vivo, cuspia sangue enquanto do seu peito saía ainda mais. Nos aproximamos dele e com esforço o desgraçado cuspiu em mim.
- Você seu saxãozinho de merda, vai morrer da pior forma possível. – Wulfgaard tinha se abaixado e estava falando bem próximo ao rosto do homem. – Amarrem-no!
Pegamos o homem, esticamos seus membros e o amarramos. Ele já estava fraco devido à flechada, mas ainda tentava lutar e continuava nos xingando. Wulfgaard pegou Morte Fria e fez um corte longo na espinha do saxão. Ele gritou feito uma prostituta. Abrimos suas costelas pelos lados e puxamos seus pulmões para fora. Parecia uma águia de asas abertas.
- Odin! – Wulfgaard hurrava o nome de Odin para que ele aceitasse o sacrifício. – Odin!
Nesse dia a vitória foi nossa, e depois ficamos sabendo que o rei Edmundo da Ânglia Oriental havia morrido em uma igreja. Com muito esforço, suor, sangue e mortes nós tínhamos conquistado o lugar. Um pequeno pedaço de terra na verdade, mas tínhamos que ter um lugar aonde pudéssemos nos preparar para um objetivo maior. Wessex. Se Wessex caísse, a Britânia cairia, e nós teríamos uma nova terra para nosso povo.
Wulfgaard é meu amigo. Já lutei inúmeras batalhas ao seu lado e seguirei quantas mais forem preciso. Não o seguimos pelo ouro ou prata, mas porque com ele sentimos confiança e respeito. O que conseguimos com os saques é dividido igualmente. Meu nome é Johan Skald Ulfasson. Sou o que os Britânicos chamam de Bardo ou Poeta. Pagam-me para contar grandes feitos de homens que nada fizeram; grandes batalhas que nunca passaram de uma briga de taverna e grandes heróis que nunca existiram.
Hoje irei contar para todos que grandes feitos foram realizados por um homem, que grandes batalhas aconteceram e que um grande herói existiu. Meu amigo “Bjorn”.

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