quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Parte V

- Continuando... – Naddod andava pela grande sala indo em direção à pequena Frida. – Se o cagalhão aqui e esse gordo careca que usa vestido forem sozinhos, duvido que cheguem à aldeia. Com sorte, chegarão com uma lança enfiada no peito e o pé preso no estribo.

- O senhor Naddod está certo, senhor Asgeir. Se formos apenas nós, seremos mortos. – padre Baldwyn agora se juntava à voz de Naddod.

- Não vou deixar meu filho viajar com um verme comedor de merda. – Asgeir apontava a espada para mim.

- Se você permitir Asgeir, eu vou com o padre e seu filho. Mas para isso, tenho que levar o pequeno guerreiro ali. – Naddod queria algo com isso, eu só não sabia o quê.

- Para que precisa levar o bastardo?

- Eu não sei o caminho, e acho que nem o velho de saia, nem o cagalhãozinho saibam. – Naddod olhou para os dois, recebendo apenas um meneio de cabeça dizendo que não sabiam. – Além do mais, se eu chegar lá sem o pequeno guerreiro, quem volta pendurado no estribo, sou eu.

Asgeir mandou que todos saíssem do salão e só ficassem os homens livres do lugar. Ele estava fazendo uma Althing, que é uma reunião para saber a opinião de todos. O motivo dessa Althing era eu, e seu resultado seria meu destino.

Padre Baldwyn estava de joelhos com a cabeça baixa. Segurava forte a cruz de madeira que possuía, enquanto falava baixinho algo que eu não entendia.

- Rezando para o seu deus padre?

- Sim. – Ele abriu os olhos e levantou a cabeça. – E acho que você também deveria.

- Não conheço seu deus padre. Nem nunca vi o poder dele.

- Então reze para os seus. – Agora ele se levantava. – Minha cabeça não vale nada aqui. A sua pelo que vi, já vale alguma coisa.

- Você é daqui mesmo padre?

- Sim. Sou de Wessex. – Ele sorria

- Você fala dinamarquês muito bem, para quem é daqui.

- Obrigado meu filho. Resolvi aprender depois que vocês chegaram aqui em 851. Falando sua língua é mais fácil falar de Cristo.

- 851? E em que ano estamos agora segundo seu deus?

- 870 meu filho.

A porta do salão se abriu e todos saíram de lá. Asgeir parou na porta e tocou o punho de sua espada enquanto me fitava. E em meio ao barulho natural que a cidade produzia, Naddod veio até mim.

- Pegue seu cavalo pequeno guerreiro, e você também padre. Vamos viajar.

- Meu nome é Johan Skald. – Olhei bem fixo para ele. – E se me chamar de pequeno guerreiro novamente, eu arranco o seu couro e o ponho para cobrir meu escudo.

Naddod deu uma gargalhada e foi pegar seu cavalo. Eu e padre Baldwyn fizemos o mesmo. Ingvar também estava indo pegar seu cavalo e assim nós começamos nossa jornada.


Cruzamos o portão um pouco depois de esperarmos Ingvar montar em seu cavalo novamente após ter caído por ter esquecido de prender a sela ao animal. O garoto era mesmo um cagalhão. Tinha um corpo franzino, bem fraco, não tinha porte e nem jeito de guerreiro. Não sabia como conseguia erguer sua própria espada. Mas ali estava ele, cavalgando todo pomposo como se fosse um verdadeiro líder.

Bem diferente disso era Naddod, que cavalgava ao lado de Ingvar. Além de alto, era muito forte. Não possuía um rosto mutável. Era uma expressão sempre fechada, raivosa. Os cabelos loiros contrastavam com sua cota de malha reluzente. Ele sim deveria ser um bom guerreiro. Não conseguiria uma malha daquelas sendo um medroso. Com ele estavam seus dois cães. Hopp e Yrsa. O que era para ser uma viagem silenciosa estava se transformando em barulho com aqueles cães latindo e correndo.

Já havia se passado algumas horas desde que saímos de Thunderslay e o sol batia em nossas cabeças com força. Naddod e Ingvar, que iam à frente, conversavam e riam alto. Padre Baldwyn e eu não falávamos muito, talvez por estarmos mais atenciosos com o caminho até a aldeia de Withburga. Durante o caminho não vimos pessoa alguma, apenas pássaros, pequenos animais e gado pastando. Padre Baldwyn vinha cantarolando uma música bem chata naquela língua que eu não entendia e eu não via a hora dessa viagem acabar, chegar em casa e sentir o beijo de Ailith de novo.

Por mim, não iria pegar padre algum. Na verdade, acho que mataria todos eles. Fracos. Não têm honra. Qualquer problema e logo pedem ajuda para seu deus, se ajoelham e imploram pela desprezível vida que possuem. O povo passa fome enquanto eles guardam ouro e prata em suas patéticas igrejas. Raça de víboras. Se for para ser um cristão assim, continuarei com meus deuses e deusas, meus sacrifícios, meus ritos, minha guerra e minha honra. Mesmo sentindo esse desprezo por padres, monges e qualquer tipo de sacerdote cristão, o padre Baldwyn não me causava essa repulsa, talvez por ele não aparentar gostar da riqueza. Não usava as grossas e pesadas correntes de ouro com cruzes de prata no pescoço, só tinha aquele cordão de couro com a velha cruz de madeira. Vivia se preocupando com as pessoas à sua volta mais do que com ele mesmo. Acho que esse era o diferencial que ele possuía.

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