quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Parte VI

- Como está a igreja de Santa Withburga meu filho?

- Está sendo reformada padre. Os homens estão trabalhando sem parar. É capaz de já estar pronta quando chegarmos.

- Tomara meu filho, tomara. Estou ansioso para falar de Cristo para aqueles novos cristãos.

- Cuidado para não falar demais padre – Dei um sorriso ao lembrar-me de um padre que falou demais e cortamos-lhe a língua. – Não fiz essa viagem para que você morra lá.

- Já lhe disse que com Deus eu estou seguro meu filho – Dizendo isso, beijou a velha cruz de madeira presa ao pescoço.

O vento balançava a grama alta que crescia ao lado da estrada de terra em que seguíamos. O barulho que produzíamos assustava alguns pássaros que estavam no mato alto, fazendo os cães de Naddod correrem como loucos atrás dos pássaros que voavam.

- Então nossa aldeia é chamada de Wit... O que mesmo padre?

- Withburga meu filho – Ele falou dando um risinho por eu não ter conseguido falar o nome da cadela. – Foi uma virgem santa aqui da Ânglia Oriental, filha mais nova do rei Anna. Depois que ela perdeu o pai em uma batalha, foi para Dereham e lá fundou uma igreja. Pena que não pode ver a igreja ficar pronta, pois morreu antes – Agora ele tinha uma afeição triste enquanto falava. – Ela foi uma verdadeira santa e está sepultada em Dereham, mas a mão direita está na igreja da aldeia que tem o nome dela.

- Está me dizendo que lá guardam a mão de uma mulher que morreu faz anos? – Perguntei com escárnio.

- Isso mesmo – O sorriso voltou ao rosto do padre quando ele falou disso. – E estou muito feliz em saber que verei a mão da santa novamente.

- Quando entrei na igreja não vi nenhuma mão ressacada de uma defunta – Ri alto ao imaginar uma defunta defendendo uma cidade. – Vocês cristãos dizem que somos loucos por queimarmos nossos mortos e vocês guardam a mão de uma morta e estão sãos?

- A mão da santa é milagrosa até hoje meu filho! – O padre estava ficando fervoroso ao falar da santa e sua mão cadavérica. – Ao tocar na mão várias pessoas foram curadas, mulheres que não podiam ter filhos estão grávidas e, além disso, a santa nos protege.

- Protege tão bem que nós tomamos a aldeia em menos de uma hora – Novamente eu ria alto enquanto o padre Baldwyn fez cara de bravo e me olhou sério. – Matamos alguns homens, estupramos as mulheres e escravizamos as crianças e não vi santa alguma. Por isso que eu confio na minha destreza com a espada e nos deuses, do que na mão de uma mulher morta.

- Olha como fala da Santa Withburga! – Padre Baldwyn levantou o dedo indicador com fúria, parecia que iria lançar uma maldição. - Deus pode te transformar em um cão que caga sangue por falar isso!

- Se isso acontecer padre, eu irei atrás de você e depois de matá-lo, mijarei em seu corpo e cagarei sangue nessa sua grande boca que tem – Dei um sorriso.

Naddod e Ingvar não falaram conosco durante todo o caminho que percorremos até avistarmos uma pequena coluna de fumaça. Estava um pouco distante de nós, mas já dava para ver que não era um incêndio grande. Queimávamos fazendas e aldeias inteiras, mas aquela fumaça era pouca para que fosse uma propriedade grande. Os dois à frente apenas nos olharam e continuaram cavalgando sem dizerem nada, e assim fomos seguindo pela estrada de terra cercada por mato alto.

- Acha que estamos seguros Johan? – Dava para ver claramente que padre Baldwyn estava preocupado com o percurso. Ele era saxão, mas em um ataque, talvez perdesse a vida também. Caso fossem dinamarqueses, poderiam querer matar o padre apenas por diversão.

- Pensei que confiasse no seu deus, padre.

- Ora! Cale a boca e responda a minha pergunta!

- Está convivendo tempo demais com os dinamarqueses, velho – Ele segurava a cruz de madeira com força e olhava para todos os lados. Por isso os saxões estavam perdendo suas terras para nós, apenas sabiam rezar ao invés de lutar. – Mas estamos seguros sim, pelo menos até agora.

- Vocês são três dinamarqueses. Se aparecerem mais de vocês, acho que verei a face de Deus ainda hoje.

- Por outro lado padre, se aparecerem saxões, virão matar os três dinamarqueses que devem estar seqüestrando o velho padre indefeso. Então nós é que veremos as Valquírias ainda hoje.

Padre Baldwyn riu com a hipótese, mas continuava apreensivo. À medida que cavalgávamos, a coluna de fumaça ia chegando mais perto, ficando mais densa e já podíamos sentir o cheiro de queimado.

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