quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Parte VII

- Acha que isso pode ser um ataque dos seus amigos, skald? – Naddod havia parado seu cavalo, mas não havia sinal algum de medo naquela cara feia.

- Pode ser, mas nós já saqueamos tudo nessa área. As aldeias menores nos pagam o Danageld – que é o tributo pago a nós para que não ataquemos suas terras. Quanto mais pagam, menos recursos têm, então quando os recursos acabam e não nos pagam, nós atacamos. – Pode ser que alguém não nos tenha pago.

- Tomara que sim – Naddod voltava a cavalgar e parecia não se incomodar com o que poderia estar no caminho. – Não quero me cansar com uma luta nessa manhã.

Naddod era tão cheio de si que se tornava algo esquisito de se ver. É importante ter confiança em você mesmo e na sua espada, mas sua vida está nas mãos dos deuses. Eles que decidem sua vida, seu futuro, seu destino. Ele devia ser um bom guerreiro, pois não era qualquer um que possuía uma cota de malha tão bela e um cavalo tão bem tratado. Deveria ter bastantes terras e riquezas para ser noivo da filha de Asgeir, o Manco. Talvez por tudo isso eu não confiasse nele, ou talvez sua prepotência, mas eu precisava vê-lo lutando com alguém antes que fosse comigo. Queria conhecer meu futuro oponente, porque eu sabia que algum dia isso iria acontecer.

Ingvar, assim como todo cagalhão, não falava e nem fazia nada. Se falasse gracinha para mim ou Naddod, iria apanhar feito criança. Então continuava cavalgando ao lado de Naddod sem abrir o bico, e acho que nem peidava de tanto medo. Mas o silêncio de Ingvar foi interrompido quando avistamos o que ardia em chamas, criando aquela coluna de fumaça.

- Mas o que é aquilo na estrada? – Ingvar com os olhos arregalados e pele pálida, esticava o dedo na direção em que olhava.

- Parece que algum porco idiota ateou fogo à carroça no meio da estrada – Todos nós olhávamos atentos para os lados enquanto Naddod falava. – Deve ser um dos seus amigos idiotas, skald.

- Ou talvez sua mãe tenha passado por aqui e quando abriu as pernas para meus amigos, queimou tudo o que estava à sua volta. – Respondi enquanto cavalgávamos em direção à carroça.

- Você é o filho de uma porca prenha, pequeno guerreiro de bosta! Está querendo morrer?

- Se é tão bom assim, desça do cavalo e tente a sorte.

- De novo não senhores. Todos nós precisamos chegar em segurança à aldeia de Withburga. – Padre Baldwyn, como da outra vez, só queria apaziguar as coisas.

- Feche essa boca com bafo de vômito seu velho de saia! – Naddod desceu do cavalo e eu fiz o mesmo. Ingvar também desceu e ficou olhando para nós dois, já empunhando as espadas. Padre Baldwyn foi o único que continuou montado e começou a rezar.

Eu já estava pronto para o combate. Meu coração batia forte naquele momento. Não me lembro como estava o céu ou se pássaros voavam naquela hora, apenas me lembro do momento do furor do combate, saber que eu poderia fazer com que Sangue Fresco provasse da carne de mais um que cruzou o meu caminho, ou, eu poderia estar caído ao chão agonizando ou já morto. Se eu morresse naquele momento, morreria bem, pois estaria com minha espada nas mãos e um guerreiro deve morrer assim. Naddod era um adversário forte e medonho, difícil de encarar no combate e fora dele, mas eu não estava ali para desistir e nem para morrer. Eu não sou apenas um skald ou um pequeno guerreiro como aquele idiota dizia, eu sou um grande guerreiro com o sangue de meu pai correndo nas veias, meu pai que era descendente do próprio Odin, grande homem de guerra, um dos maiores guerreiros que a Dinamarca já pôde ver. Ulfar, o Gelado. Mas isso eu contarei um pouco mais adiante.

Meu problema naquela hora, grande problema, era Naddod. Como eu faria para vencê-lo? Com todo aquele tamanho eu poderia tentar cansá-lo, mas eu teria que ser muito rápido, um golpe dele e tudo estaria acabado para mim, porém, melhor morrer lutando e assim manter minha reputação do que ser um covarde cagalhão como muitos por aí. Olhei naqueles olhos negros e fundos de Naddod, apertei firme o punho de Sangue Fresco, fiz minha oração para Odin e provoquei Naddod.

- O que está esperando saco gigante de bosta? Acha que sua mãe vai passar de novo aqui para me incendiar com o lugar de onde você saiu um dia?

Naddod não respondeu, nem deve ter pensado em algo para falar, apenas grunhiu como um animal e se lançou contra mim. Ele vinha girando sua espada em minha direção e nesse momento lembrei-me de quando era criança e meu pai me dizia: Você é meu filho, e como seu pai e o pai de seu pai, irá se tornar um guerreiro. O sangue que corre em meu corpo corre em você meu filho. Sangue do próprio Odin, sangue guerreiro. Tem algo que eu quero que nunca se esqueça. O gado morre, os parentes morrem, a própria pessoa morre. Conheço apenas uma coisa que não morre – o renome dos nobres mortos.
Quando me lembrei disso senti meu corpo tremer, mas não era medo ou desespero por ver aquele ser vindo em minha direção, era a vontade de matar. Raiva por recordar do passado e não poder ter feito nada, pois tinha apenas dez anos. Quanta raiva dentro de mim. Olhei Naddod, que chegava cada vez mais perto e com velocidade, cortando o ar com sua espada que vinha em direção ao meu rosto. Em um momento inesperado de raiva, ódio, dor e tristeza, gritei o nome de meu pai e levantei com rapidez Sangue fresco, fazendo com que ela golpeasse com força a espada que vinha em minha direção. O impacto entre elas foi tão forte que onde as lâminas se encontraram, uma faísca surgiu seguida de pequenas lascas de ambas as espadas. Paramos por um segundo por causa do dano causado às lâminas, quando uma lança passou voando entre nós e acertou em cheio o peito do cavalo em que o padre Baldwyn estava, fazendo o animal relinchar de dor e jogar o santo homem no meio do capim alto. De início pensei que fossem os homens de Wulfgaard, mas eles não acertariam o cavalo e sim, o homem que lutava comigo. Foi quando ouvimos o grito ensurdecedor de Ingvar.
- Saxões!

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