quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Parte VIII

O grito que Ingvar deu quando viu os saxões, se igualava ao grito de uma menina vendo um enxame de abelhas. Os desgraçados haviam colocado aquela carroça ali justamente para que um pequeno grupo parasse e eles atacassem. Começaram a aparecer do mato alto e foram nos cercando rapidamente. Pude contar doze homens, mas poderia haver mais escondidos. Não eram homens pertencentes a um exército, a maioria não tinha cota de malha ou couro, utilizavam apenas lã. Dois ou três estavam com couro apenas. Também não havia muitas espadas nem escudos, nos atacariam com lanças, foices e machados em sua maioria. Mesmo assim ainda estávamos em desvantagem, éramos dois contra doze, já que Ingvar era inexperiente e o padre Baldwyn ainda não tinha aparecido desde que caíra no mato alto.

- De costas um para o outro! – Eu gritava a ordem para que os dois imbecis viessem para junto de mim e formássemos um triângulo, onde um ficando de costas para o outro, nos defenderíamos melhor.

Eu não acreditava que sairíamos com vida dali. Eu sabia que o triângulo não iria durar muito tempo, e quando isso acontecesse, os dois que estariam de pé receberiam a lâmina no meio das costas e assim minha missão estaria terminada.

Ingvar estava na minha direita e sua espada tremia feito vara verde. Coitado do cagalhão. Imagino que seu pai já o tenha levado para assistir alguma batalha, mas já tendo visto ou não, lutar contra doze saxões ao lado de apenas dois guerreiros dinamarqueses, dava medo em qualquer um. Até Naddod que parecia ser um bom guerreiro, não parava de xingar e reclamar por não termos avançado com os cavalos pelo capim alto, e assim, fugido dos saxões. Eles, por sua vez, estavam agora vindo devagar e se juntavam mais. Seria apenas um ataque, homem após homem, eles viriam para nos matar.

- Teremos que segurar esses desgraçados ao máximo – Eu estava nervoso, mas conseguia pensar no que fazer, isso é ser um guerreiro. – Vamos acabar com o moral deles e depois com suas vidas!

- Depois que isso terminar, resolveremos nosso problema, pequeno guerreiro. – Naddod mantinha os olhos fixos nos saxões á sua frente, insultava-os e batia com sua espada na bossa do escudo vermelho e branco que carregava.

Os saxões iam chegando mais perto e o cerco ia se fechando. Os cães que Naddod trouxera estavam latindo sem cessar para o inimigo, e só aguardavam a ordem para atacar e assim, poderem rasgar pele e músculos com seus afiados dentes. Meus pés estavam firmes no chão, minha mente concentrada em apenas retalhar e matar, e eu segurava com força Sangue Fresco. A fumaça era soprada pelo vento em nossa direção fazendo com que meus olhos ardessem e minha boca ficasse seca. O suor descia de minha testa e eu sentia a cota de malha pesar sobre meu corpo. O elmo parecia me atrapalhar e o escudo não me permitia fazer movimentos rápidos. Não sabia o que estava havendo comigo, pois sempre lutei muito bem com todo esse equipamento, mas naquele dia era diferente. Eu me sentia pesado e lento com tudo aquilo e ainda tinha a maldita fumaça que fazia com que meus olhos ardessem sem parar.

Os saxões estavam mais perto, ao ponto de podermos ver os dentes podres que eles exibiam com as risadas que davam, em ver três ratos dinamarqueses totalmente cercados. O que eles não tinham aprendido ainda, ou tinham se esquecido, é que nós dinamarqueses não somos ratos como eles. Nós somos ursos que urram diante da morte.

- Seus vermes filhos de uma cadela imunda!

Eu não conseguia mais ficar sentindo todo aquele peso sobre meu corpo, e em um ato rápido e impensável, joguei o elmo no chão, tirei a cota de malha e minha camisa, e deixei o escudo cair de meu braço. Eu estava nu da cintura para cima e meu corpo mostrava as marcas de antigos combates. Meu cabelo estava preso por uma fita de couro, então o soltei e naquele momento o festim de sangue, a vontade de matar, o gosto pela morte havia tomado conta de mim.

Nesse momento do gosto pela matança eu não consigo me lembrar de tudo, mas sei que abandonei o triângulo e corri em direção ao saxão que estava à minha frente exibindo aqueles dentes podres. Ouvi o comando de Naddod para seus cães, que passaram correndo por mim e saltaram sobre um dos homens. Mas o que eu queria era o saxão à minha frente, que vinha empunhando uma foice. Corri em sua direção com Sangue Fresco abaixada, deslizando sobre o capim da minha lateral. O homem baixou a foice, cortando o ar, vindo na altura dos meus olhos, então levantei Sangue Fresco e aparei seu golpe jogando a foice para longe. Ele estava com uma expressão de pavor e abriu os braços como se pedisse misericórdia, o problema é que eu não sou Deus para tê-la. Com Sangue Fresco ainda no ar, baixei-a e fiz um corte fundo no peito do homem que caiu de braços abertos e esvaindo-se em sangue. Havia sangue dele salpicado no meu rosto e no meu corpo, e como tudo estava sendo muito rápido um segundo agressor tentou investir sua espada contra meu flanco esquerdo. Girei e aparei o golpe, bati com o punho de Sangue Fresco na sua cara de porco e vi alguns dentes voarem junto com sangue. O homem cambaleou e antes mesmo que abrisse os olhos, cravei minha lâmina em seu peito, fazendo com que ele se encolhesse para frente. Ele estava caindo, então puxei Sangue Fresco, sangue voou sobre o capim, e antes que ele caísse a enterrei em suas costas. Sangue Fresco ficou presa e tive que pisar no homem ainda agonizante para soltá-la. Vi que os outros saxões estavam fugindo apavorados, e que Naddod e Ingvar também tinham lutado.
Eu estava com a respiração pesada e com uma vontade enorme de continuar a matança. Ainda com o pé no peito do saxão com cara de porco, levantei minha espada e dei um brado de vitória a Odin, e não teve como não ouvir. Fui caminhando em direção aos dois, quando escutei um gemido atrá de mim. Virei-me e vi que um saxão estava parado com uma lâmina saindo de seu peito, o machado em sua mão havia caído e seu corpo perdia a força. Seus olhos já sem o brilho de vida olharam nos meus enquanto ele caía. Foi então que vi padre Baldwyn atrás do homem caído, suas mãos sujas de sangue e uma cara de assustado pior que a de Ingvar. Ele caiu de joelhos e começou a chorar feito uma criança desmamada. Olhava para as mãos sujas com o sangue do homem que matou e pedia perdão pelo que tinha feito.

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