quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Parte IX (final)

- Senhor Jesus! Perdoe-me por ter tirado a vida desse pobre homem – O choro não cessava e as lágrimas escorriam pelo seu rosto cansado. – Quero teu perdão! Não quero ir para o inferno, Deus!


- Por que está chorando padre? Deveria estar alegre, afinal, salvou minha vida. Tenho que admitir que para um padre, você matou bem. Temos uma dívida.


- Você não entende Johan. Eu infringi um dos dez mandamentos de Deus, matei um homem. Como posso ficar alegre sabendo que irei para o tormento eterno do inferno?


- Dez mandamentos? Para quê um homem precisa de tantos? – Padre Baldwyn me olhou com uma cara feia depois que disse isso. – Você iria para o inferno mesmo salvando a vida de outro homem?


- Sim. – Respondeu confuso.


- Se seu deus não entende isso, ele não é Deus. Se ele não é Deus, suas leis não valem, e você não tem com o que se preocupar.


Desde que eu conhecera o padre Baldwyn nunca o tinha visto ou falando algo que mostrasse alguma maldade. Ele realmente não era como os outros malditos padres, bispos e monges que falavam do deus deles, mas acabavam fazendo justamente o contrário. Por isso também é que achávamos divertido matar esses miseráveis e vê-los clamarem para seu deus que nunca os respondia.


Caminhamos de volta para os cavalos, onde Naddod e Ingvar haviam lutado. As mãos do padre ainda tremiam e o soluço de seu choro continuava. O capim alto à nossa volta estava salpicado com o sangue dos saxões que foram mortos, bastardos que agora serviriam de alimento para os animais. Sangue Fresco havia provado o sangue desses saxões imundos e agora estava tão vermelha que não podia se ver o brilho meio azulado do aço de sua lâmina. Meu corpo nu, da cintura para cima, também estava respingado com o sangue dos desgraçados, meus cabelos estavam molhados por causa do suor e sangue, e meu espírito exultante pelo sabor do combate. A morte é minha vida.


- De onde esses bastardos surgiram e por que fugiram assim? – Naddod também sujo de sangue empurrava um dos mortos para o lado com seu pé. – Um bando de covardes!


- Não meu senhor, eles não fugiram porque são covardes, mas sim porque pensaram que Johan era o demônio. – Interveio padre Baldwyn.


- Eu? O demônio? – Dei uma risada e coloquei a camisa e a cota de malha. – Quando eu for o demônio padre, levarei você comigo.


Padre Baldwyn fez o sinal da cruz.


- Johan, um homem que tira a cota de malha, elmo, e luta sem escudo como peito nu, não é algo muito comum de se ver.


- Também não é comum um padre matar um homem, do seu próprio povo, e, no entanto você o fez. – Naddod falou rispidamente enquanto bebia um gole d’água.


- Matei por impulso e estou arrependido. Estou em pecado e não sou merecedor da glória de Deus. – O padre estava com as mãos para o alto e olhava para o céu.


- Pare com essa baboseira padre – Não adiantava que o santo homem ficasse choramingando o que já fora feito. – Eu ficando sem o equipamento, só serviria de incentivo para que eles atacassem, e não fugissem como veados sendo caçados.


- Seus olhos Johan, estão vermelhos. Ficaram irritados por causa da fumaça, e você ainda partindo apenas com sua espada, eles pensaram que você fosse o demônio. – O padre ria com o que dizia.
- Eu já sabia que eram todos uns cagalhões covardes, mas achar que o homenzinho fosse o demônio é burrice – Naddod ria com o ocorrido ou por terem achado que eu seria um demônio. - Fugiram de medo por causa de um skald. Medrosos.


Eu já estava novamente vestido para a guerra e prendia meu escudo à sela de Swarta. Ingvar estava sentado em seu elmo e olhava para o chão com uma expressão de completo idiota, enquanto limpava sua espada em um movimento quase automático e frenético. Ele podia ser um cagalhão, mas eu não o culpava, afinal, sentir o gosto do sangue de um homem pela primeira vez era algo único e medonho. Eu me lembro da primeira vez que matei um homem, eu tinha 12 anos e não foi nada fácil. Quando eu escrevo um poema sobre os homens e suas vitórias, sempre descrevo como foi fácil para o guerreiro matar o inimigo, me pagam bem para isso, mas só quem luta é que sabe que matar é uma arte difícil de aprender, mas depois de dominada transforma um homem em uma arma letal.


- Acha que eram tão medrosos assim cão imundo? - Só porque tivemos um contratempo, não significava que eu fugiria de Naddod, por isso o convidei para o combate. – Se pensa assim, lute comigo e descubra o motivo de tamanho medo.


- Não tenho medo de um homenzinho. O matarei logo e mijarei em você, depois seguirei viagem. Quando chegar ao mundo dos mortos, Hel saberá que morreu por minhas mãos ao sentir o cheiro do meu mijo.


Como antes, nós dois empunhávamos as espadas e trocávamos insultos, e em breve, sangue seria derramado.


- Se ficarmos aqui, os homens que fugiram irão voltar com reforços, e não haverá demônio que os espante. – Ingvar falou pela primeira vez desde o ataque.


- O senhor Ingvar está certo, e além do mais, se perdermos tempo com mais uma luta, não chegaremos antes do anoitecer em Withburga.


Naddod e eu nos encaramos ainda por alguns minutos, e sem dizer uma palavra, percebemos que Ingvar e padre Baldwyn estavam certos. Era muito arriscado ficarmos ali e aparecerem mais saxões, por isso embainhamos as espadas e montamos novamente. Antes nós ainda pegamos duas espadas, dois elmos, uma cota de malha e três machados.


Ao chegar a Withburga, contaria o ocorrido a Wulfgaard e eu sabia que descobriríamos quem foram os saxões que nos atacaram. Não pertenciam a nenhum exército, portanto eram camponeses que não estavam satisfeitos com o controle dinamarquês na sua terra, ou algum monge incitou-os ao levante. Os desgraçados iriam pagar por isso, assim como suas mulheres, filhos e filhas. Mas, para que isso ocorresse, deveríamos chegar à aldeia antes do anoitecer. Agradeci a Odin pela vitória e trotamos pela estrada.


Nesse momento eu apenas desejava beber um bom hidromel, comer uma boa carne e ter a minha mulher.

Eu apenas desejava isso.

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