quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Capítulo I: Um Novo Começo - Pt. II

Eu já estava cavalgando há um bom tempo pelos campos verdes daquele lugar. As flores brotavam, pássaros cantavam e animais silvestres eram vistos com facilidade. Eu vinha segurando e olhando para a cruz de madeira que Ailith me dera. Queria saber que tipo de poder teria aquele amuleto. Pelo que ela havia me dito, o deus cristão havia mandado seu filho à terra para que todos nós tivéssemos a chance de sermos salvos do fogo do inferno. O filho desse deus teria sido morto em uma cruz e voltado a viver no terceiro dia. Eu nunca entendi como o filho de um deus poderia ser morto assim, de forma tão simples. Como ele não ordenou que seus agressores fossem tragados pela terra? Se existe esse tal céu e inferno eu não sei, mas certamente esse homem não foi para o Valhalla. Para lá só vão os melhores guerreiros que são mortos com a espada em mãos. Mortes dolorosas e sofridas nos levam direto para o grande salão de Odin, ou para o salão da deusa Freya, que é a líder das Valkírias. Elas que levam os guerreiros desse para o outro mundo. No Valhalla, todos os dias os guerreiros lutam até fazerem-se em pedaços. Chegando a hora da refeição, os ferimentos são curados enquanto se divertem comendo a carne do javali Schrinnir e bebendo hidromel fornecido pela cabra Heidrum. Estes guerreiros mortos são conhecidos como Einherjar, são os escolhidos para lutar no Ragnarok, a batalha final entre os deuses e os gigantes. Coitado daquele que morre doente, velho ou de fome. Esses vão para o Niflheim, o reino dos mortos, quer era regido pela deusa Hel, filha do deus Loki. Lá também havia a serpente comedora de cadáveres, a Nidhogg. Esse com certeza não é um bom lugar para ir.

Coberto de pensamentos e ficando com fome, lá estava eu, naquela estrada de terra cortando a grama verde. Disseram-me que era só seguir a estrada que eu chegaria a Thundersley. Eu estava com minha cota de malha, luvas de couro, botas altas e uma capa marrom que cobria minhas costas e meu rosto. Do lado esquerdo da cela de Swarta estava meu escudo e ao lado direito, um machado de lâmina curva. Sangue Fresco pendia em minhas costas sendo escondida pela capa marrom.

O sol já havia passado do ponto mais alto do céu e beirava o horizonte quando avistei os muros de Thundersley. O muro, de pedra e madeira, parecia ser bem vigiado pelas sentinelas que montavam guarda. Me aproximei do portão e um verme qualquer já veio apontando aquela lança de merda para mim.

- Aonde pensa que vai? Esta cidade pertence à Asgeir, o Manco.

- Vim a mando de Wulfgaard “Bjorn”, seu verme comedor de merda. Abra logo esse portão antes que eu passe meu cavalo por cima de você, e antecipe seu encontro com o outro mundo.

Mais três homens chegaram com as espadas já em mãos. Eu desci de Swarta e desembainhei Sangue Fresco. Os quatro homens me olhavam, mas nada faziam. Até que um deles correu em minha direção com a espada para cima e gritando feito um louco. Me abaixei e esperei ele chegar mais perto. Só quando estava prestes a abaixar o braço em mim, levantei com velocidade e acertei seu queixo com o punho de minha espada. Ele caiu para trás cuspindo sangue e os poucos dentes que tinha. Os outros homens, que sobraram de pé, já haviam me cercado quando alguém falou.

- Parece que alguém perdeu os últimos dentes que possuía. – O homem de pé em cima do muro soltou uma gargalhada. – Você. Cavaleiro. O que veio fazer aqui?

- Vim a mando de Wulfgaard “Bjorn” levar um padre para nossa aldeia. – Disse ainda mantendo a guarda.

- Wulfgaard? Filho de Olaf?

- Sim. Esse mesmo.

- Deixem o homem entrar. – Com isso, desceu do muro.

Adentrei pelos portões puxando Swarta pelas rédeas. Havia muitas pessoas naquela cidade. Tanto saxões como dinamarqueses. O homem que estava no muro veio mancando em minha direção.

- Então você é o homem que irá levar o padre. – Ele me olhou de cima a baixo. Já era bem velho. – Pensei que viriam mais com você, ou, que mandassem um com o dobro de sua altura.

- Isso é porque você ainda não viu o tamanho da minha espada. – Nisso segurei meu saco. – Imagino que sua mulher vá gostar quando ver.

O velho me fitou sério por alguns instantes, mas logo soltou outra gargalhada poderosa e me deu um tapa no ombro.

- É disso que eu gosto. Senso de humor. – O velho me deu um leve empurrão. – Vamos filho. Vamos andar.

- Sou Asgeir, o Manco. Já deve ter percebido, afinal, nem todos mancam por aqui. – o velho sorriu. – Como te chamam?

- Johan Skald Ulfarsson.

- Hum... Conheci Wulfgaard quando ele ainda era criança. – caminhávamos em uma rua larga com construções dos dois lados. – Lutei ao lado de seu pai algumas vezes, e numa delas, um maldito franco atravessou sua espada na minha coxa. – Asgeir passou a mão na perna ferida. – Mas logo em seguida matei o desgraçado e mijei sobre seu cadáver.

Alguns homens de Asgeir nos seguiam enquanto caminhávamos. A fumaça saía do teto das casas, o sol já desaparecia no horizonte e eu só desejava estar com Ailith.

- Por que querem um padre na aldeia? – perguntou Asgeir.

- Existem tantos cristãos quanto nós lá. Por isso Wulfgaard atendeu ao pedido de terem um padre.

- Malditos cristãos. – Praguejou o velho Asgeir. – São como ratos. Covardes e espalham-se rápido. – Paramos em frente a uma casa. – Hoje você passará a noite aqui. O padre estará o estará chamando pela manhã. Logo ali, por onde passamos, fica a taverna. Lá tem comida, bebida e mulheres. Menos a minha, é claro. – Outro tapa em meus ombros e Asgeir se foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário